Escola recebe voluntários para reorganizar seu espaço de leitura


Escola Estadual Alfredo Paulino, na zona oeste de São Paulo, é uma das participantes do projeto Myra-Juntos Pela Leitura.
Na sala de leitura da Escola Estadual Alfredo Paulino, encontrar um livro específico costumava ser algo demorado. A partir de agora, os leitores em busca de livros didáticos, informativos, infantis e literários terão sua jornada facilitada. É que, no último sábado (14/09), foi realizado uma ação pedagógica de organização do espaço – popularmente conhecida como mutirão.

Crianças, professores, voluntários e familiares se reuniram com um estudante de biblioteconomia, convidado especialmente para a ação, e passaram a tarde reorganizando o acervo, dividindo por temáticas, escolhendo cores para identificá-las e aprendendo a utilizar um software de catalogação de livros. Antes, tudo era feito à mão e em papel, num processo analógico que acabava dificultando o processo de empréstimos e a própria busca dos livros.

Localizada no Alto da Lapa, zona oeste de São Paulo, a EE Alfredo Paulino recebe o programa Myra – Juntos pela Leitura, uma iniciativa da Fundação SM que conta com o apoio técnico da Comunidade Educativa CEDAC e tem como objetivo contribuir para melhorar cada vez mais o desempenho leitor de estudantes. Em 2019, o Myra está em três escolas da rede municipal (EMEFs Ary Gomes, Cacilda Becker e Amorim Lima), além da Alfredo Paulino, que faz parte da rede estadual.

Cenas do mutirão na sala de leitura da EE Alfredo Paulino

Onde há livros, há esperança

Rafael Simões, 26 anos, é estudante de biblioteconomia e participa da gestão compartilhada Biblioteca Comunitária Caminhos da Leitura, em Parelheiros. Convidado para ajudar no mutirão, Rafael acredita que a uma sala de leitura organizada contribui para o desenvolvimento cultural e cognitivo dos alunos, seja em escola pública ou particular. “Quanto mais a criança se aproxima do mundo literário, mais inteligente e leitora ela vai ser, mais argumentos vai tendo para demonstrar seu pensamento. A sala de leitura abre um leque de possibilidades aos alunos”, afirma o estudante.

Na pesquisa “Retratos da leitura – Bibliotecas escolares”, que será lançada em breve pelo Instituto Pró-Livro, encontrou correlações entre a presença de um espaço para leitura com o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), indicando que o índice é melhor nas escolas em que há biblioteca; e com o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), indicando que, quando a biblioteca desenvolve suas atividades relacionadas ao projeto pedagógico da escola, os alunos se saem melhor nas avaliações de português.

Entretanto, dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) de dezembro de 2018 indicavam que mais da metade das escolas brasileiras (55%) não tinham biblioteca escolar.

Espaço auto-organizável

Presente no mutirão, a voluntária do Myra Alice Wey faz questão de ressaltar que aquela sala de leitura não pode ainda ser considerada uma biblioteca. Mãe de um estudante da Alfredo Paulino, Alice não demorou a perceber que, no geral, a sala ficava fechada e era pouco utilizada por falta de um funcionário que a organizasse. “Insisti muito para acharmos um jeito de abrir o espaço e fazer ele ser auto-organizável, levando em conta o material que o Myra havia apresentado sobre a importância dos espaços leitores na escola e como eles teriam um papel fundamental para a formação dos comportamentos leitores das crianças”, afirma.

Como a Alfredo Paulino é uma escola em tempo integral, a ideia é que a sala de leitura possa ser uma das possibilidades de recreação para as crianças após o almoço, para além do parquinho, da brinquedoteca e da horta. “A ação de organizar o espaço é também para deixá-lo aberto para o uso livre das crianças, com autonomia e apropriação das obras”, defende Alice.

Participantes aprendem a usar software de catalogação de livros…

…e se reúnem para a foto oficial do mutirão!

Apropriação pelas crianças

Outra voluntária do Myra na Alfredo Paulino, Maria Travitzki revela que a desorganização prévia do espaço a atrapalhava durante a sua sessão de leitura na escola, que dura uma hora por semana. “Era complicado achar os livros e não podia demorar muito.” Maria então convocou a família para ajudar no mutirão: seus dois filhos estavam presentes, assim como sua mãe, que também é professora de literatura e língua portuguesa. “Todo mundo tem que estar envolvido nessas pequenas ações. Temos que estimular o comportamento de olhar para o outro dentro do seu bairro, e não esperar os outros resolverem seu problema.”

Uma das formadoras do Myra, Renata Grinfeld avaliou a ação como um início promissor. “Agora sabemos para onde ir. O trabalho ainda será finalizado aos poucos, e a ideia é que esse processo vá sendo apropriado e passado para quem mais usa o espaço, que são as crianças.”